A maioria das pessoas não se preocupa com a Reforma.
É uma realidade triste, mas é a verdade.
Normalmente, só começamos a pensar na Reforma quando já nos aproximamos da idade de aposentar.
Bem depois dos 50 anos…
Mas para aqueles que começam a planear a Reforma mais cedo, surgem perguntas pertinentes:
«Como devo planear o meu portefólio para estar a gozar a reforma com tranquilidade?»
ou
«Quais as melhores estratégias para começar a desinvestir quando chegamos à idade da pré-reforma para podermos viver dos rendimentos?».
São perguntas legítimas…cujas respostas quero partilhar contigo neste artigo.
Em primeiro lugar é preciso reconhecer o risco dos ativos financeiros que temos no portefólio.
A pior coisa que pode acontecer quando nos reformamos é ver que o nosso portefólio desvalorizou 50% nos últimos meses.
Imagina o que é teres 300.000€ numa conta à espera de te reformares…para no ano que vens descansar veres que o portefólio desvalorizou para 150.000€.
A sensação é horrível!
Claro que isto só acontecerá em condições muito especiais.
Terias de ser vítima de um Bear Market tremendo e querer levantar todo o teu dinheiro de uma só vez.
Para dizer a verdade…seria um erro fazê-lo.
Seria um erro vender toda a tua carteira de investimentos no ano de reforma na esperança de dali para a frente contar os tostões até ao fim de vida.
Se levantares todo o dinheiro de uma só vez, deixas de o ter a valorizar…
Se levantares todo o dinheiro de uma só vez, ele começará a perder valor para a Inflação…
E tu não queres isso!
Mas como eu dizia, o primeiro passo é compreender o risco dos ativos a que estamos expostos, seja na idade da reforma ou na pré-reforma.
E adaptar à nossa situação particular.
Por exemplo, Warren Buffett e Charlie Munger têm ambos 99% das suas fortunas alocadas ao mercado acionista.
Ambos têm mais de 90 anos, mas continuam fortemente investidos em ações através da Berkshire Hathaway.
São loucos?
Não, claro que não.
Reconhecem o risco, investem há décadas e sabem, acima de tudo, gerir esse risco.
Não estou a dizer para seres como eles e teres 99% do teu dinheiro em Bolsa quando completares 90 anos.
Agora… pode ser do teu interesse saber uma estratégia específica para lidar com o mercado acionista quando te aproximas da idade da reforma.
Ofereço-te duas.
Regra dos 4%
Uma dessas estratégias é chamada dos 4%, ou Regra dos 4%.
Esta estratégia diz que devemos levantar 4% dos nossos investimentos por ano após a reforma.
Porquê?
Primeiro porque 4% está abaixo da valorização média do índice S&P500 (nota: esta estratégia assume que tens investimentos no índice S&P500 através de ETFs, e não propriamente em ações individuais).
A valorização do índice S&P500 tem sido em média em torno dos 9% ao ano. Um ótimo valor!
Segundo porque 4% está acima da Inflação.
A taxa de inflação média anda à volta dos 2%/ano.
Retirar 4% por ano dos teus investimentos permite-te estar a combater o poder corrosivo da Inflação enquanto o património continua a valorizar a longo prazo.
Claro que haverá anos em que o índice ganha menos, outros anos ganhará mais.
Mas com consistência, tudo se alcança…e o teu património continuará a valorizar mesmo contigo a tirar-lhe 4%/ano após reformares-te.
Uma excelente estratégia, não achas?
Mas há aqui uma nota adicional.
Esta estratégia tem vindo a adaptar-se ao longo dos anos e hoje em dia diz-se que:
- Os 4% são para tirar no primeiro ano
- Do segundo ano para a frente, retira-se uma percentagem ajustada à Inflação. Se a inflação subir 1.5%, retira-se 1.5%; se subir 0.2%, retira-se apenas 0.2% do nosso portefólio; e por aí fora.
Ajustes novos, mas percebes a ideia da Estratégia dos 4%.
Portefólio 60/40
Existe uma outra estratégia, conhecida por Portefólio 60/40.
Esta estratégia diz que devemos ter uma percentagem do nosso portefólio alocada a Ações em proporção inversa à nossa idade.
Traduzindo para linguagem que se entenda, quer dizer que se tiveres 40 anos, deverias ter 60% do teu portefólio alocado a Ações e 40% em Obrigações.
Ou se tiveres 70 anos deverias ter 70% do teu portefólio alocado a Obrigações e apenas 30% em Ações.
E por aí fora…
Para te ser honesto, não sou adepto desta estratégia.
É demasiado redutora!
Como vimos anteriormente, Warren, Charlie e tantas outras pessoas têm grande parte do seu portefólio alocado a ações de empresas, que são o que realmente cria valor a longo prazo.
O risco não está nas ações…o risco está em querer levantar todo o dinheiro dos nossos investimentos quando nos reformamos. Não faria sentido!
O risco está em não entender o que se está a fazer…
Mas para mim, há um risco grande em assumir esta estratégia.
Desde os anos 80 que as Taxas de Juro têm vindo a descer.
E ainda que não se possa dizer que elas não subirão no futuro, parece-me pouco provável que as nossas Obrigações venham a valorizar a longo prazo.
Há um risco maior em ter o dinheiro a valorizar 0%/ano (sim, leste bem, 0%), do que investir na Bolsa.
Esta é a realidade para quem quer assumir estratégias de pura conservação de capital…acaba por não conservar nada.
Estas são duas possíveis estratégias para adaptar o nosso portefólio assim que nos aproximamos da idade da reforma.
Pessoalmente, gosto mais da primeira do que da segunda.
Mas vejo-me a manter a maior parte da minha fortuna em ações, mesmo depois de me reformar (qualquer que seja a idade em que isso vá acontecer).
E tu…tens alguma estratégia diferente que queiras partilhar?
Como te posicionarás para a reforma, de forma a continuares a valorizar o teu portefólio à medida que vais retirando dinheiro dele?
Diz-me aí nos comentários que eu gostaria muito de saber.
Saudações lucrativas,
Frederico