Será que Risco é o mesmo que Volatilidade?

Ou será que as pessoas confundem estes termos constantemente?

 

É sobre isso que te quero falar neste artigo.

 

 

Vejo muitas pessoas a confundir risco com volatilidade.

Quem não investe, olha muitas vezes para a Bolsa como algo extremamente arriscado. Olham para um gráfico, vêm que anda para cima e para baixo, e chegam à conclusão que investir em ações é muito arriscado. Não percebem que as oscilações que vêm diariamente significa que as ações são voláteis…não necessariamente arriscadas. Uma coisa é variar/oscilar/movimentar-se para cima e para baixo (volatilidade), outra coisa bem diferente é o risco do ativo financeiro onde se investe.

Mesmo quando falamos de investidores, vejo muitas pessoas a cometer o mesmo erro: a confundir risco com volatilidade. Como vêm que há ações que variam mais que a generalidade do mercado, acham que são arriscadas. Como vêm que o mercado num dia desce 2%, mas a ação mais volátil caiu 5%, já acham que investir nessa empresa é muito arriscado. Nada mais longe da verdade…

Em matéria de ações, a volatilidade é medida pelo BETA. Beta é um termo usado para mostrar se uma dada empresa oscila mais ou menos do que o resto do mercado. Por exemplo, o Beta da NVIDIA é de 1.53. Isso quer dizer que ela irá variar mais que o mercado. Se o mercado sobe 2% num dia, a NVIDIA poderá subir 3%, por exemplo. Se o mercado descer 3% num dia, a NVIDIA poderá descer 4.6%, por exemplo. Mas isso não significa que investir na NVIDIA é mais arriscado. O risco vem de outro lado…

 

Poderás estar a perguntar-te de onde vem então o risco.

Existem pelo menos 3 formas de identificar o risco, todas elas interligadas.

 

1) Preços demasiado caros

A primeira forma de identificar que uma ação (ou qualquer outro ativo) estão a ficar arriscados é compreender o preço a que estão face ao seu valor. Repito: preço face ao seu valor.

Quando falamos em ações, falamos muitas vezes em comprar uma empresa por menos do que ela vale. E por vezes o mercado oferece-nos verdadeiras oportunidades, com ações extremamente baratas face ao seu valor.

Quando compramos uma ação barata face ao seu valor intrínseco, o risco é diminuto. O risco é baixo porque os piores cenários já estão descontados na ação. Por vezes vemos excelentes empresas a cair 20% num dia ou dois só porque dececionaram com o lançamento de um produto ou houve uma notícia menos favorável. Os investidores descontam os cenários mais negativos e a ação cai.

Pelo contrário, por vezes boas notícias fazem o preço das ações subir demais. Quando só há boas notícias para uma empresa, mais e mais investidores começam a comprar as suas ações…a qualquer preço! E quando os preços sobem demasiado, o risco de perdermos o nosso capital já é grande. Muito grande!

Vejamos dois exemplos:

  1. Em 2016/2017 a Apple estava a cotar a um P/E de 13. Este era um valor extremamente baixo para uma empresa líder no seu setor, com mais de 1.5 biliões de clientes em todo o mundo (somos 7.8 biliões de pessoas neste planeta), que vendia de iPhones a iMacs, passando por uma série de outros produtos que fidelizam os clientes à marca. Mais importante ainda era a base de clientes que seriam subscritores dos novos serviços que a Apple estava a começar a oferecer. Os serviços da Apple para os mais de 1.5 biliões de clientes, que estão praticamente isolados no ecossistema da empresa, valeriam biliões em receitas anuais. Ainda mais importante, era a quantidade de dinheiro livre em caixa que a companhia tinha (mais de $100B), que estava a ser usado para pagar dividendos aos acionistas e para recomprar ações próprias, aumentando assim o valor para os acionistas. Só que poucos estavam a ver isto.

Em 2020 os investidores já reconhecerem o potencial enorme da companhia, compreenderam que a Apple é uma empresa que gera dinheiro atrás de dinheiro e remunera os acionistas como poucas empresas o fazem. Perceberam o seu valor e puxaram as ações para os níveis mais altos dos últimos 20 anos, com o P/E a atingir 36 em agosto de 2020. Tornou-se mais arriscado investir com um P/E de 36 do que era com um P/E de 13. Porquê que digo isto? Vamos ao 2º ponto.

  1. Em investimento, o preço importa. Muitos esquecem-se disso, mas o preço a pagar por uma empresa importa mais do que a excecionalidade da empresa. Uma excelente empresa nem sempre significa um excelente investimento. Em 1999, no pico da Bolha DotCom, a Microsoft estava a cotar com um P/E de 84. Os lucros tinham aumentado 775% nos últimos 7 anos. Estávamos a falar de uma excelente empresa, com um crescimento soberbo, e um balanço financeiro ótimo. Mas valeria a pena pagar 84x os seus lucros? Claro que não…como os investidores viriam a descobrir nos anos seguintes. A cotação da ação caiu e caiu e caiu e caiu…Só viria a recuperar em 2016! Foram mais de 16 anos de rentabilidade negativa para quem esteve disposto a pagar 84x os lucros da Microsoft. Uma perda pesada para qualquer carteira de investimento. Em investimento, o preço importa!

 

2) Otimismo desmesurado, euforia, exuberância irracional e comportamentos inadequados

O otimismo desmesurado aconteceu na Bolha DotCom, na Crise Subprime que levou ao colapso financeiro em 2007, e em tantas outras ocasiões ao longo da História da Humanidade. Poderia estar aqui a detalhar vários exemplos, mas poderás ver um conjunto de exemplos eufóricos brevemente explicados num artigo que dediquei aos Crashes em Bolsa.

O que relatei para a Microsoft aconteceu com tantas outras tecnológicas durante a Bolha DotCom. A Amazon, por exemplo, chegou a cair 97% depois da euforia ter passado. O risco de investir em empresas tecnológicas que estavam a cotar a 80x ou mais os seus lucros era tremendamente alto…mas muitos ignoraram isso…Aliás, foi durante este período que ficou famosa a frase de Alan Greenspan, presidente da FED dos EUA: “exuberância irracional”. Mais tarde, Robert Shiller viria a escrever um livro com o mesmo título e a ganhar o Prémio Nobel da Economia em 2013.

E o mesmo aconteceu com as ações Nifty Fifity nos anos 70. McDonald’s, Xerox, IBM, entre tantas outras empresas excelentes à época, a cotar a mais de 90x os seus lucros. Uma autêntica euforia que viria a custar caro aos investidores. O risco era demasiado alto, mas poucos perceberam isso. Os investidores demoraram duas décadas para recuperar o seu investimento!

Podemos recuar ainda mais, ao séc. XVII, quando as pessoas estavam a vender as suas casas para comprar bolbos de tulipas…cujos preços (e o risco) estava tão alto que mais de 300 anos depois ainda não recuperaram. Uma perda elevadíssima para os investidores da época (e para os seus descendentes, com certeza).

 

 

3) Alavancagem e Produtos Exóticos

A última forma de identificar riscos é quando se vê as pessoas a irem para instrumentos financeiros que não compreendem e que apresentam um risco de perda permanente de capital tremendo.

Em 2019 e 2020 o número de pessoas a investir em Forex cresceu imenso. Muitos jovens são iludidos por imagens e vídeos populares no Instagram que mostram outros jovens a conduzir um carro de luxo, ou a saltar para uma piscina numa mansão, ou noutras situações de ostentação de bens materiais. Escusado será dizer que é tudo show-off, falso até ao tutano, e que tu também consegues tirar fotos dessas. Mas o que te quero mostrar aqui é que o risco de perda de capital é tremendamente alto quando investes em produtos com alavancagem.

O que é a alavancagem?

É quando investes com dinheiro emprestado. Dinheiro que não é teu e que poderás devolver se ganhares com as apostas que fazes…mas que também terás de devolver se perderes dinheiro com essas apostas.

Para alguém que use uma alavancagem de 2x, basta uma queda de 50% no ativo investido para perder a totalidade do seu investimento. Mas fica pior: para quem use alavancagem de 5x, basta uma variação de 25% negativa e perde tudo. Quem invista com uma alavancagem de 10x? Uma variação de -10% e perde a totalidade do sue investimento.

Percebes o risco de investir com alavancagem?

Para investir em alguns produtos exóticos é preciso alavancagem. E quando usas alavancagem…estás a pedi-las!

Cuidado!

Se não compreendes o produto, não invistas.

 

 

 

Esta era a mensagem que te tinha para trazer hoje. A esta altura estás capaz de distinguir risco e volatilidade. Percebes que volatilidade é algo normal, que se tem de aceitar quando se investe em produtos financeiros. E sabes como identificar o risco no mercado no geral ou num dado ativo particular.

Parte para o mercado controlando o risco, e terás sucesso!

Se tiveres alguma dúvida, escreve nos comentários em baixo. Tenho o maior prazer em esclarecer-te.

 

Saudações lucrativas,

Frederico Santarém