Muitas pessoas perguntam-me porque não invisto no S&P500…
Afinal de contas, investir em ETFs que repliquem o principal índice norte-americano tem sido aclamado como a melhor estratégia para quem quer começar a investir sem grande trabalho!
Mas há 3 motivos que me levam a não investir num ETF que replica o S&P500…
E é isso que te trago neste artigo.
Caso não saibas o que é um Exchange Traded Fund (ETF), aconselho-te a ir primeiro ler este artigo. Está super completo e ajuda a compreender os prós e os contras de investir num ETF.
Vamos lá ver porque não invisto no S&P500
Motivo 1: Investir de acordo com os valores morais
Quem me conhece sabe que defendo o investimento em ações para fazer crescer o nosso dinheiro a longo prazo.
Mas também sabe que não o faço a qualquer custo.
Com um doutoramento em Biologia e sendo eu um amante da natureza desde criança, sempre me preocuparam as questões de sustentabilidade… De conservação ambiental… De respeitar a natureza!
E para mim está completamente fora de hipótese colocar um euro que seja em empresas petrolíferas, mineiras ou outras empresas que destruam completamente a paisagem onde têm operações.
Uma petrolífera causa grandes impactes ambientais…
Bem como uma empresa mineira destrói completamente o local onde opera!
E eu sou completamente contra isso!
Pois há outras formas de desenvolvermos a sociedade sem destruirmos a natureza!
Não sou fundamentalista ao ponto de dizer que todas estas empresas deveriam acabar.
Percebo que ainda produzem muitos produtos e sub-produtos que são usados no nosso dia-a-dia.
Mas com o meu dinheiro não contam!
E por isso não invisto em petrolíferas, mineiras ou outras empresas que sejam responsáveis por elevadas emissões de dióxido de carbono para a atmosfera ou que destruam a paisagem local em detrimento dos lucros rápidos.
Não coloco um único euro que seja nestas empresas!
Nem que estejam a cotar em Bolsa com enormes descontos!
E esta é a mensagem que te quero deixar.
É importante investir o nosso dinheiro a longo prazo…mas é igualmente importante ir de encontro aos nossos valores morais!
Os meus valores morais não me permitem investir em empresas altamente poluidoras e destruidoras do ambiente.
E espero que consideres os teus valores morais e éticos quando fores a investir numa dada empresa.
O mais importante é investir em consciência.
E fazer investimentos que vão de encontro aos nossos princípios!
Este é o principal motivo porque não invisto no S&P500.
Mas há mais…
Motivo 2: Os ETFs não sobem sempre! (ao contrário do que se diz por aí…)
Muitas pessoas acham que os índices acionistas que os ETF replicam vão subir sempre.
Olham para um gráfico do S&P500 ou do Dow Jones e pensam que é só subidas.
Mas há períodos da história que nos mostram que isto não é verdade!
Há alturas em que os índices sobem de forma impressionante…e o ETF que o replica também!
Mas há outros momentos em que os índices estagnam!
Por exemplo, toda a gente sabe que em média o S&P500 valorizou 9%/ano nas últimas décadas.
Mas isto não quer dizer que o faça sempre!
Entre 1929 e 1954 o índice teve um retorno absoluto de 0%!
25 anos sem retorno nenhum!
Depois o índice subiu nos 18 anos seguintes, tendo rentabilidades de cerca de 7.8%/ano até 1973.
Mas depois foram mais 9 anos seguidos sem rentabilidade nenhuma!
De 1982 até 2000 o índice apresentou bons desempenhos, tendo subido a uma média de 15.5% ao ano durante quase 18 anos…
Para voltar a estagnar de 2000 a 2013!
E de 2013 a 2020 subiu a uma taxa média de 11.6%/ano…subida essa que foi quebrada pelo Grande Confinamento que começou a afetar as ações em março.
E depois desta subida impressionante dos últimos anos…não creio que os próximos anos se revelem animadores para os investidores (claro que posso estar enganado; mas a história mostra-nos o contrário).
Fonte: Apresentação individual de Mohnish Pabrai, fundador da Pabrai Investments Funds e da Dhandho Funds.
O mesmo aconteceu por exemplo com o Dow Jones, um índice que contém 30 das maiores empresas dos EUA.
Teve um período de 1898 a 1921 (aproximadamente 22 anos) em que não rendeu nada, tendo subido nos 8 anos seguintes cerca de 21.6%/ano até ao pico de 1929.
Depois enfrentou a Grande Depressão e precisou de 25 anos para recuperar o valor atingido em 1929.
Só em 1954 o fez, altura em que o índice apresentou um crescimento impressionante de cerca de 9.1%/ano até 1965, para depois ver os 17 anos seguintes a não renderem absolutamente nada!
De 1982 para a frente teve um crescimento extraordinário, cerca de 15.1%/ano durante 17 anos.
Mas de 1999 a 2011 estagnou!
E daí para a frente voltou a crescer a olhos vistos, cerca de 9.8%/ano até 2020.
Mas já estás a perceber o que poderá acontecer com o índice daqui para a frente…
Fonte: Apresentação individual de Mohnish Pabrai, fundador da Pabrai Investments Funds e da Dhandho Funds.
E o mesmo aconteceu com o NASDAQ, um índice maioritariamente composto por ações tecnológicas.
Este índice tem uma história mais recente, mas o padrão repete-se!
De 1972 a 1980 não rendeu nada!
Mas de 1980 a 2000 cresceu cerca de 19.5%/ano! Impressionante!
Mas como foi apanhado numa Bolha Financeira no fim da década de 90, assistiu a uma estagnação de cerca de 16 anos daí para a frente.
Só em 2016 recuperou e voltou a apresentar um crescimento impressionante de cerca de 21.4%/ano até 2020.
Fonte: Apresentação individual de Mohnish Pabrai, fundador da Pabrai Investments Funds e da Dhandho Funds.
E mesmo o índice acionista japonês – NIKKEI tem sido uma desilusão!
Desde 1990 que está em terreno negativo!
As últimas três décadas apresentaram um decréscimo (sim, leste bem!) de 1.7%/ano!
Fonte: Apresentação individual de Mohnish Pabrai, fundador da Pabrai Investments Funds e da Dhandho Funds.
Um padrão semelhante é encontrado no Kospi, um índice coreano, como poderás ver na imagem abaixo.
Fonte: Apresentação individual de Mohnish Pabrai, fundador da Pabrai Investments Funds e da Dhandho Funds.
Ou seja, é importante ter uma visão de muito longo prazo quando investimos em ETFs.
No entanto, os estudos mostram-nos uma realidade diferente: mesmo quem investe de forma passiva sucumbe muitas vezes às transações de curto prazo.
Não aguentam ver o portefólio desvalorizar 40% e vendem tudo em desespero.
Foi isso que aconteceu em março de 2020, quando o S&P500 perdeu 35% em apenas 3 semanas.
Está provado que muitos investidores em ETFs venderam estes ativos de forma massiva, levando o índice acionista a perder valor muito rapidamente!
Motivo 3: A Bolha nos ETFs
Apesar de que os ETFs são altamente recomendados por algumas das maiores personalidades no mundo das finanças (incluindo Warren Buffett) e figurarem em vários livros como o melhor veículo para fazer crescer o nosso património (como por exemplo no livro “O Jogo do Dinheiro, de Tony Robbins”)…
Podem estar em BOLHA!!!
Eu sei que pode parecer inacreditável, mas várias vozes têm-se levantado neste sentido.
Por exemplo, Michael Burry, investidor que ficou conhecido por ter previsto a Bolha Imobiliária que levou à Grande Recessão de 2008-2009 e que se vê protagonizado no filme Big Short (disponível na Netflix) por Christian Bale, tem vindo a lançar vários alertas para a Bolha nos ETFs.
E eu compreendo!
A indústria dos ETFs tem crescido a olhos vistos na última década.
Hoje representa um mercado de mais de $5 triliões só nos EUA!
Um crescimento impressionante…mas que tirou da equação a descoberta do preço dos ativos!
O problema estrutural de um ETF que replique o S&P500 é precisamente esse: não olhar a preços!
O ETF compra os ativos que compõem o índice independentemente do valor deles!
Claro que diversifica muito os investimentos quando compra ações de centenas de empresas…mas fá-lo a qualquer preço e isso é errado em investimento!
Até quando todas as empresas do índice estão caríssimas, o ETF limita-se a comprar essas empresas…mesmo quando o risco está no máximo e as quedas são iminentes!
Isso viu-se em março de 2020, quando o principal índice de ações dos EUA, o S&P500, derreteu 35% em apenas 19 sessões de negociação!
Isto deveu-se ao pânico generalizado dos investidores…
E quando esses investidores estão envolvidos numa indústria de 5 triliões de dólares…qualquer oscilação na sua psicologia pode levar a grandes quedas.
Se os investidores ficam extremamente pessimistas (como aconteceu em março), a indústria dos ETFs pode movimentar todo um mercado e fazer com que as ações caiam imenso!
É como numa sala de cinema que está cheia de pessoas e onde começa um incêndio…
Só há uma porta de saída…e toda a gente terá de sair pela mesma porta.
Mas nem todos conseguirão sair!
Eu sei que a comparação gera medo, mas é a realidade dos ETFs…e que os está a conduzir a uma bolha que poderá rebentar sem qualquer aviso…
PUUUUMMMM!
Resumindo: não invisto em ETFs ligados ao S&P500 ou a outros índices acionistas porque:
- Contêm empresas que não estão alinhadas com os meus valores morais
- Apresentam riscos ligados à rentabilidade que são descurados por muitas pessoas
- Podem estar a entrar numa bolha financeira de onde é difícil sair sem grandes prejuízos
Estes motivos fazem sentido para ti?
Diz-me aqui nos comentários se fazem sentido e se também tens estas preocupações de alinhar os teus investimentos com os teus princípios éticos e valores morais.
Saudações lucrativas,
Frederico