Warren Buffett disponibilizou a Carta Anual aos Acionistas de 2019.

Warren é chefe-executivo da Berkshire Hathaway, uma das maiores empresas do mundo, há 54 anos. E há 54 anos que disponibiliza estas Cartas aos Acionistas, autênticos poços de sabedoria.

Cada uma destas cartas é uma enciclopédia de investimentos!

E eu todos os anos aguardo ansiosamente para ler estas cartas e perceber que ensinamentos o Mestre quer passar. Quais são as estratégias vencedoras. Como se deve atuar no mercado de ações.

Afinal de contas, de 1965 a 2009 Warren Buffett rentabilizou o seu património (e o dos seus acionistas), 20.3%/ano. Sim, leste bem! Um retorno médio anual de mais de 20% ao longo de 54 anos!!! Impressionante, invejável, único!

É por isso que ele é considerado o maior investidor do mundo.

 

Mas vamos à carta…

 

 

1) A importância dos Lucros Retidos

Warren começa por dar importância aos lucros retidos. Nas suas palavras, empresas bem-geridas não deverão distribuir todos os ganhos obtidos num ano (na forma de dividendos) pelos seus acionistas.

Empresas bem geridas retêm parte dos lucros e reinvestem no negócio, o que beneficia o poder do juro composto. Empresas bem geridas retêm parte dos lucros para crescer ainda mais, e mais tarde obter lucros ainda maiores.

Pelo contrário, empresas mal geridas tendem a distribuir a totalidade dos seus lucros obtidos num ano como dividendos. Como é que uma empresa que distribui 100% dos seus lucros pode crescer? Resposta: não pode! (pasme-se!)

 

Observa esta tabela:

Na coluna “Retained Earnings” vemos as receitas obtidas pela Berkshire de empresas (onde investem) colocarem o seu capital (os lucros retidos) a trabalhar para si.

Opta sempre por empresas que retêm elevadas percentagens dos lucros (ainda que distribuam parte em dividendos), e NÃO empresas que distribuem todos os ganhos anuais em dividendos, à procura de satisfazer os dividend-hunters (caçadores de dividendos).

 

Grandes empresários do início do séc. XX, como Andrew Carnegie (industrial do aço), John D. Rockefeller (do setor do petróleo), e Henry Ford (da indústria automóvel) perceberam o potencial dos lucros retidos para financiar o crescimento das suas empresas e produzir ainda mais lucros no futuro. É por isso que eles conseguiram tornar-se nos magnatas que conhecemos e hoje aparecem em todos os livros de gestão.

 

 

2) Qualidades a observar nos negócios a adquirir

A carta refere que Warren e Charlie Munger (vice-presidente da Berkshire) procuram SEMPRE comprar negócios com três qualidades essenciais:

1) os negócios geram um excelente retorno sobre o capital investido;

2) são geridos por gestores capazes e honestos; e

3) estão disponíveis a um preço razoável.

Tentam comprar 100% desses negócios. Quando não conseguem (porque as empresas já são demasiado grandes), adquirem participações nesses negócios (as ações) como se estivessem a comprar a sua totalidade.

Nós, pequenos investidores, deveríamos olhar para a compra de ações da mesma forma.

Adquirir uma ação numa empresa com estas qualidades deveria ser precedida de uma decisão de comprar a totalidade da empresa.

Para mim, comprar uma ação da Amazon representa comprar a empresa toda. E eu tenho de estar tão satisfeito com a compra de uma ação como estaria com a compra da empresa toda (se tivesse o capital necessário para isso – mais de um trilião de dólares [$1.000.000.000.000] à data da publicação deste artigo).

 

 

3) Negócios e casamentos

A carta também refere que Warren e Charlie olham para a aquisição de negócios (ou ações de negócios) como casamentos.

Alguns serão idílicos, outros serão desastrosos.

Tal como nos casamentos, a aquisição de um negócio começa por um momento rejubilante, alegre, quase de êxtase. Porém, com o tempo, a realidade começa a divergir das expectativas iniciais.

Por vezes, essa realidade torna-se ainda melhor. Outras vezes, a desilusão toma lugar.

Nos negócios é aplicada a mesma lógica: por vezes a aquisição de uma fatia desse negócio (através de ações) revela uma realidade ainda melhor do que a que pensávamos originalmente (ganhamos muito mais do que esperávamos); outras vezes a aquisição revela-se desastrosa.

A diferença no mundo dos investimentos é que temos a opção de nos “casar” com um conjunto de diferentes negócios. Mesmo que um ou outro negócio se revelem desastrosos, a generalidade do portefólio pode-se revelar altamente lucrativa, revelando “casamentos” ótimos para manter (preferencialmente para sempre).

 

 

4) EBITDA – “bullshit earnings”, nas palavras de Charlie Munger

EBITDA significa lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização.

Esta é uma métrica popularizada por Wall Street e por alguns CEO de algumas empresas.

Na Berkshire, os lucros são reportados DEPOIS de impostos, taxas, etc., não ANTES, como a maioria o faz.

Infelizmente, muitos investidores olham para esta métrica (EBITDA), ignorando que as empresas têm de pagar taxas e impostos.

Algumas empresas reportam valores de EBITDA muito grandes, para logo a seguir desiludir quando se chega à parte do lucro líquido – pelo caminho, os impostos e taxas poderão, em alguns casos, ter comido 70 ou 80% das receitas, gerando pouco lucro.

Pessoalmente, prefiro olhar para o lucro líquido das empresas (na Income Sheet) e para o dinheiro livre em caixa e Free Cash Flow (na Balance Sheet). São duas métricas que demonstram a capacidade da empresa pegar no meu dinheiro e reinvestir no seu negócio (aumentando assim a rentabilidade do meu investimento ao longo do tempo) ou comprar outros negócios que lhe acrescentarão valor e a farão valer ainda mais daqui a uns anos.

 

 

5) A importância de investir SEMPRE no longo prazo

Apesar dos altos e baixos do mercado acionista, com umas ações a descerem 20% num ano e a ganhar 30% no outro, outras a descer 40% num ano e a subir 10% no outro, no longo prazo as excelentes empresas oferecem rentabilidades elevadas.

Repare-se nos retornos elevadíssimos sobre algumas companhias detidas pela Berkshire, face ao preço de aquisição inicial:

American Express Company – 1964; Bank of America Corp. – 2011; The Coca-Cola Company – 1988; The Goldman Sachs Group, Inc. – 2008; Wells Fargo – 1990

 

Warren e Charlie não veem as suas posições como uma coleção de apostas no mercado acionista, tal como Wall Street e tantos investidores o fazem.

Eles NUNCA venderão as suas posições só porque uma casa de investimento diminuiu o outlook da empresa ou atribuiu um preço por ação abaixo; não venderão porque a empresa falhou os lucros esperados num dado trimestre ou ano; não venderão porque a Reserva Federal (ou o Banco Central Europeu) vai diminuir ou aumentar as taxas de juro; não venderão por os analistas atribuírem preços diferentes para as suas ações.

O que eles veem nas suas participações é (nas palavras de Warren): “um conjunto de empresas que eles detêm parcialmente e que, no conjunto, estão a ganhar mais de 20% (itálicos do próprio Warren Buffett) sobre o capital próprio líquido tangível requerido para administrar os seus negócios”.

E é nisto que tens de te concentrar! Procura empresas que estejam a ganhar acima de 20% sobre o capital próprio (ROE > 20%) e verás o teu portefólio a valorizar ano após ano, acima da média.

Warren dá mais uma achega ao investimento de longo prazo. Afirma que 99% da sua fortuna está ligada às ações que detém da Berkshire (impressionante!) e que nunca vendeu uma única ação da empresa (nem tenciona fazê-lo). A alienação de algumas ações aconteceu apenas para fins relacionados com doações à caridade, para presentes pessoais (ele gostava de distribuir ações pela família todos os Natais), e num negócio com um Banco onde foram trocadas ações de uma empresa pela outra.

 

 

6) Ações são o melhor ativo financeiro

Warren avisa que as ações, no longo prazo, irão ter um desempenho superior a obrigações, sejam elas estatais ou de empresas.

O ativo que mais valoriza a tua carteira a longo prazo são as ações, mesmo que no curto prazo o seu valor caia 50% ou mais.

Mas isso, tu já sabes! É por isso que estás nos Investimentos Lucrativos, para saber como rentabilizar o teu capital com investimentos a longo prazo em ações.

 

 

7) O futuro da Berkshire Hathaway

A carta termina com algumas reflexões sobre o futuro da Berkshire.

Muitos investidores da Berkshire estão preocupados pela idade avançada dos seus presidentes (Warren: 89 anos; Charlie Munger: 96 anos) e pela possibilidade da sucessão na presidência não vir a ser tão bem-sucedida a encontrar excelentes negócios como foi Warren Buffett.

Warren apresenta um conjunto de fatores para tranquilizar os acionistas na Berkshire, desde os negócios que detêm total ou parcialmente, aos gestores de topo que controlam as operações diárias dentro da empresa e à confiança que neles deposita.

 

 

8) Compra de ações por Administradores de empresas

Uma nota adicional para a administração de empresas.

Warren enfatiza a importância de os diretores das empresas deterem ações das empresas que administram.

Não faz sentido que haja administradores a ganhar ordenados chorudos por controlarem uma empresa gigante e não detenham uma única ação dessa empresa. Isso revela que os interesses destes administradores não estão alinhados com os interesses dos acionistas.

Empresas detidas largamente por fundadores, famílias fundadoras ou por acionistas de referência (posições superiores a 5%) costumam oferecer rentabilidades superiores a longo prazo para os seus acionistas. Os interesses daqueles estão alinhados com os teus.

Em oposição, empresas gigantes em que os administradores estão lá para ganhar ordenados chorudos (na casa dos milhões de euros/dólares) mas que não detêm ações da companhia, tendem a rentabilizar menos o nosso capital. Os interesses daqueles NÃO estão alinhados com os teus, neste caso.

Presta atenção à forma como a administração trata as ações: isto vai-se refletir também na tua rentabilidade.

 

 

Estes foram alguns dos pontos mais importantes que retirei da Carta aos Acionistas da Berkshire Hathaway de 2019.

Para o ano, volto a comentar a nova Carta que sairá. Até lá, reflete bem sobre todos estes ensinamentos do mestre Warren Buffett.

 

 

Saudações lucrativas,

Frederico