Um IPO significa Initial Public Offer, em inglês. Ou, em Português, Oferta Pública Inicial (OPI).
É um processo no qual uma empresa privada vai abrir o seu capital ao público. Quer dizer que antes da OPI a empresa era 100% privada e não tinha de detalhar as suas contas ao público. Não havia essa obrigação. A partir do momento em que faz a OPI, a empresa fica obrigada a mostrar ao público as suas contas: lucros anuais, ativos, passivos, dinheiro gerado pelas operações, entre muitas outras coisas.
As Ofertas Públicas iniciais permitem ao Grande Público subscrever participações no negócio subjacente. Isso quer dizer que enquanto a empresa era privada, os lucros do negócio eram apenas distribuídos pelos criadores da empresa e investidores privados com grande capital. A partir da OPI, os lucros passam também a ser da pessoa que subscreve as ações dessa empresa. O Grande Público beneficia da entrada dessa empresa em Bolsa e pode lucrar com o seu crescimento.
Imagina o que é poder participar de negócios como os da Google, da Coca-Cola, da Corticeira Amorim, e de tantos outros excelentes negócios que por aí andam. Excelente, não é?
Poderás estar a perguntar-te: Mas porque é que a empresa privada quer ser cotada na Bolsa? Porque é que a empresa privada quer passar a ser pública? Quais as vantagens?
Normalmente, as empresas levantam quantias elevadas de capital com este processo. Esse capital servirá para financiar as suas atividades diárias e expandir-se por outros setores, geografias, clientes, etc. Isto é, a empresa usará o nosso dinheiro para crescer ainda mais e assim conseguir impactar positivamente mais pessoas com os seus produtos e serviços.
Durante uma IPO a empresa privada que vai passar a ser de capital público seleciona um conjunto de bancos de investimento, advogados, analistas e assessores para ajudar no processo. A empresa seleciona ainda a Bolsa onde vai ver as suas ações transacionadas (seja na Euronext, na NYSE, na Nasdaq, etc.).
Todos estes profissionais acompanharão o processo e ajudarão a empresa a vender as suas ações ao Grande Público.
Uma curiosidade:
Pensa-se que os holandeses terão sido os primeiros a lançar uma Oferta Pública Inicial, quando abriram o capital da famosa Companhia Holandesa das Índias Orientais. Durante o sec. XVIII o público holandês conseguiu obter participações na maior empresa da época e beneficiar dos dividendos que a empresa pagava (distribuía cerca de 40% dos seus lucros em dividendos pelos acionistas).
Algumas chamadas de atenção:
- Geralmente os preços numa IPO são elevados. As empresas têm de pagar aos bancos de investimento, advogados, assessores e a todas as pessoas que colaboraram no processo de lançamento. Não é um processo barato, e por isso as empresas tendem a inflacionar o valor da OPI, para assim cobrir esses custos.
- Não é raro haver uma venda massiva dos investidores privados pré-IPO após o período de carência (período carência é normalmente de 3-24 meses, período no qual os investidores pré-IPO e fundadores da empresa estão impossibilitados de vender as suas ações).
- Os resultados financeiros de empresas recém-lançadas em Bolsa são normalmente fracos. Muitas vezes, estas empresas apresentam crescimentos elevados e uma expansão internacional rápida, sustentados por um endividamento também ele elevado. Quer isso dizer que muitas das empresas numa IPO não geram qualquer lucro, muitas delas estão há pouco tempo no mercado e geram prejuízos, não têm dinheiro em caixa, etc., mas apresentam prejuízos e dividas crescentes. Tudo prospetos maus que, mais cedo ou mais tarde, fazem cair o valor das ações, quando o Grande Público se apercebe desses fracos resultados e se apercebe do preço elevado que pagou pela Oferta Inicial – aí, é ver quem vende mais rápido.
- Há mais IPOs quando o mercado está otimista do que quando está pessimista. Isto quer dizer que há mais Ofertas durante Bull Markets do que durante Bear Markets, quando o contrário faria mais sentido do ponto de vista do investimento (tu, investidor, queres comprar mais barato e vender mais caro.
Por exemplo, durante os Bear Markets de 1973-1974, 1988-1990 e 2000-2002 foi quando houve menos IPOs.
No livro “O Investidor Inteligente”, de Benjamin Graham, é referido o Bull Market dos anos 80 com mais de 4000 IPOs. No entanto, de 1988 a 1990, quando estávamos em Bear Market, houve ZERO IPOs.
Noutro exemplo do mesmo livro, durante o Bull Market de 1990-1999 houve mais de 5000 IPOs, numa altura que foi denominada de Bolha DotCom. Nesta altura, milhares de empresas sem produzir rigorosamente nada de útil para a sociedade lançavam-se na Bolsa de Valores, só para tentar captar o dinheiro dos investidores incautos. Depois da bolha rebentar, os IPOs reduziram-se drasticamente. Apenas 88 IPOs em 2001.
Outro dado interessante (ou deverei dizer, preocupante?) De 1980 até 2001, se tivesses comprado ações de empresas recentemente cotadas, isto é, à data das suas IPOs, e as tivesses mantido em carteira durante três anos, terias tido um desempenho inferior ao mercado em cerca de 23%/ano. Um resultado péssimo para quem persegue a nova tendência quente, aquele IPO irresistível (e financeiramente fatal).
Todos querem investir na Amazon de amanhã, mas poucos se dão ao trabalho de perceber se essa é uma realidade atingível ou se lhes vai custar uma parte considerável do seu património.
Muito cuidado na hora de investir em IPOs. Já vimos que são normalmente lançados a preços premium, pois as empresas precisam de pagar a muitas instituições que os ajudaram nesse processo. Já vimos que também o interesse dos investidores pré-IPO pode não estar alinhado com o teu, e vão vender massivamente as suas ações assim que possível – eles ganham, tu perdes. Vimos também que os resultados financeiros são normalmente pobres, o que a longo prazo se reflete no preço da ação. Por último, vimos o desempenho inferior que IPOs têm para a carteira do pequeno investidor, quando comparado com o desempenho que obtêm de empresas maduras que estão no mercado acionista há anos e que, por algum motivo, num dado momento da história, estão a subavaliadas. Quem compra excelentes negócios por um preço inferior ao que eles valem (quando as empresas estão subavaliadas), é quem lucra mais!
Saudações lucrativas,
Frederico