totaisCalcular o valor intrínseco de uma ação é das maiores preocupações dos investidores.
Como podemos chegar ao valor da empresa?
Como conseguimos saber se realmente vale a pena investir nas ações da empresa XPTO?
É isso que te mostro neste artigo!
Existem várias formas de calcularmos o valor justo de uma empresa.
Neste artigo trago-te as 3 principais:
- Valor líquido dos ativos (NAV)
- Métricas de valorização
- Fluxos de Caixa futuros descontados para o presente (DCF)
Antes de te apresentar cada uma delas, quero salientar que para mim não existe O valor intrínseco de uma ação.
Ou seja, não existe um valor exato!
Este é dos maiores erros que vejo novos investidores a repetir continuamente na Internet.
Dizem que as ações da empresa XPTO valem exatamente 57.38€.
Isso é um erro!
Porquê?
Porque investir não é uma Ciência Exata. Investir não é aplicar uma equação matemática e chegar ao valor exato de uma ação.
Investir é um misto de ciência com arte…
Para além disso, os negócios são dinâmicos! E nós temos de contar com isso!
Investir num negócio não é dizer que as suas ações valem exatamente 57.38€, mas sim perceber que os preços oscilam num intervalo de valores.
O negócio pode estar barato se as suas ações estão entre os 30-40€ e caro se estiver entre os 120€ e 130€. Mas não podemos dizer que existe um valor exato para as ações.
Basta a empresa adquirir um negócio novo e booom: o investimento altera-se! Basta a empresa recomprar ações próprias e booom: altera-se o preço das ações.
Por isso, pensa sempre que em investimento existe um intervalo de valores justos para as ações, mas não existe isso do valor exato!
Vamos a isso…
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1. NAV – Net Asset Value (Valor líquido dos ativos)
Esta é das formas mais clássicas de chegar ao valor intrínseco (ou justo) de uma ação: avaliar os ativos líquidos de uma empresa.
Ver os ativos totais que a empresa tem num dado momento: como dinheiro (cash), propriedades, fábricas, máquinas, etc… subtrair-lhe os passivos totais: como dívida de longo prazo e de curto prazo, etc.
E perceber se num dado momento a empresa está a cotar em Bolsa abaixo do valor líquido dos ativos.
Ou seja, para obteres o valor líquido dos ativos tens de subtrair os passivos totais aos ativos totais de uma empresa.
Por vezes aparecem estas preciosidades no mercado!
Às vezes uma empresa que tem 500 milhões de euros em ativos líquidos pode estar a cotar em Bolsa a 250 milhões de euros, oferecendo-nos um desconto de 50%!
Isto é incrível!
Encontrar oportunidades destas é raro, mas por vezes acontece.
Por exemplo, em 2020 tive a oportunidade de investir no Bank of Montreal, um banco canadiano com mais de 200 anos, por metade do valor de dinheiro que tinha em caixa!
Exatamente! Metade!!!
OK, não era bem bem o valor líquido dos ativos, mas mesmo assim o desconto era visivelmente grande!
Infelizmente não avancei, e este tornou-se um dos meus maiores erros de investimento em 2020, tal como reportei noutro artigo.
Quando encontramos uma oportunidade destas não devemos desperdiçar… pois normalmente a situação de desvalorização corrige-se muito rapidamente!
Explico-te também neste vídeo como chegar ao valor justo de uma ação com base no NAV:
2. Múltiplos de Valorização
Anteriormente já te mostrei os 4 Ps mais importantes em investimento.
São quatro múltiplos que nos permitem perceber se a empresa está barata ou cara num dado momento da sua história.
Múltiplos como o P/E (Price-to-Earnings ou Preço face aos Lucros), P/S (Price-to-Sales ou Preço face às Vendas), P/B (Price-to-Book ou Preço face aos Ativos), e o P/FCF (Price-to-Free-Cash-Flow ou Preço face aos Fluxos de Caixa Livres).
É importante percebermos se estamos a pagar um valor justo face aos lucros, vendas, ativos, ou fluxos de caixa que a empresa produz.
E para o fazer temos de avaliar a média histórica da empresa para cada um destes indicadores.
Não podemos dizer que um P/E de 20 é caro para a empresa XPTO se o valor histórico andava na casa dos 35 nos últimos 20 anos. Neste caso o valor de 20 até parece bastante barato!
E quanto temos uma empresa com um P/FCF de 10 nos últimos quinze anos e de repente ela está com um valor de 25, então temos uma situação de sobreavaliação!
É preciso termos cuidado com isso! E avaliar sempre face à média histórica da empresa.
Mais uma dica: compara estes múltiplos face às concorrentes do mesmo setor.
De nada vale dizer que a empresa XPTO do setor automóvel está mais barata que a empresa YXZ do setor tecnológico só porque apresenta um P/E de 10 (enquanto que as empresas do setor tecnológico se calhar transacionam perto dos 20).
Se os múltiplos normais para o setor automóvel forem de 10, então a empresa até está adequadamente valorizada.
Em resumo: compara o valor atual face à média histórica da empresa e face aos concorrentes do mesmo setor.
Explico-te como chegar ao valor justo de uma ação a partir dos múltiplos de valorização também neste vídeo:
3. Discount Cash Flow (DCF) – os Fluxos de Caixa descontados
Esta é talvez a maneira de avaliar ações preferidas dos investidores mais recentes no mercado.
Tenho visto muitas pessoas interessadas pelo DCF, e percebe-se porquê.
Afinal de contas, esta é a forma mais quantitativa das 3 apresentadas… é a maneira de procurar o valor intrínseco das ações que mais se aproxima da tal ideia do valor exato a que uma ação deveria estar a cotar em Bolsa.
É a que procura trazer o valor mais exato ao nosso investimento… e por isso tantas pessoas gostam dela.
O DCF – Discount Cash Flow, consiste em descontar os fluxos de caixa futuros para o presente.
Ou seja, procura perceber quanto é que uma empresa vale hoje com base no que ela vai lucrar daqui a uns anos.
É um pouco de futurologia, como já irás ver… mas em investimento lidamos diariamente com este dilema: temos de investir lidando com dados incertos sobre o futuro e com os dados certos do passado.
Investir em empresas cotadas em Bolsa consiste em perceber qual será a futura rentabilidade do nosso investimento baseando-nos nos dados que temos hoje à mão.
Por isso não é tão fácil quanto algumas pessoas pensam…
Mas então, como se faz?
Como se calcula o valor intrínseco a partir do DCF?
Em primeiro lugar temos de perceber qual será a taxa de crescimento da empresa no futuro.
Temos de estimar um valor de crescimento para os próximos 5 anos, 10 anos, o que for necessário (nota: quanto mais longe fores, mais futurologia é – cuidado!)
Depois temos de assumir uma Taxa de Desconto.
Esta Taxa de Desconto é muito debatida entre os académicos. Uns consideram que deveria ser usada a Taxa de rentabilidade das Obrigações de Longo Prazo dos EUA, por serem o ativo financeiro mais seguro.
Outros consideram que deveria ser a Taxa de Retorno médio do índice S&P500, que nas últimas décadas tem oferecido rentabilidades perto dos 10%/ano. Mas há diversos fatores que podem afetar a valorização do índice e condicionar a nossa análise.
E há ainda quem considere que a Taxa de Desconto deveria ser a rentabilidade que o investidor quer atingir. Pessoalmente gosto mais desta.
Mas já estás a ver que o valor intrínseco também fica condicionado pela taxa de desconto que escolhas: 6%? Vais obter um dado valor. 15%? Vais obter um valor intrínseco bem diferente.
E por último temos de considerar um Múltiplo Terminal a que aquela empresa estaria a cotar.
Qual o P/E perfeito para uma empresa que esteja corretamente avaliada pelo mercado? 20 para uma empresa do setor do retalho? 30 para uma empresa do setor tecnológico?
Aqui também as opiniões dividem-se.
Peter Lynch, um dos maiores investidores de todos os tempos, percebeu que na maioria dos casos as grandes empresas estão a cotar a cerca de 15 vezes os seus lucros (P/E = 15).
Mas há outros autores que apontam um P/E de 20 como o valor justo para inserir aqui.
E isto condiciona a nossa análise, como já poderás estar a ver.
Uma nota adicional: tu podes considerar os lucros líquidos da empresa ou os fluxos de caixa livre (FCF) para calcular o DCF. Consoante uses um indicador ou outro, os valores apresentados para o valor intrínseco também serão diferentes.
Confuso?
Explico tudo em pormenor aos meus alunos do ILB, uma formação exclusiva em Portugal para quem quer aprender a investir na Bolsa de Valores. Nesta formação mostro exatamente todos os parâmetros que temos de inserir no cálculo do valor intrínseco com base no DCF e como se faz na prática.
Em resumo, temos de:
- Estimar uma Taxa de Crescimento para os próximos anos
- Assumir uma Taxa de Desconto
- Inserir um Múltiplo Terminal
- Perceber se faz mais sentido usar os lucros líquidos ou os Fluxos de Caixa Livre (FCF)
E com isto consguimos chegar a um valor o mais aproximado possível das ações.
Mas volto a frisar que isto não é uma ciência exata e que o DCF tem muitos fatores que condicionam o seu cálculo.
Tu podes chegar a um valor bem diferente do meu só porque assumiste parâmetros diferentes dos meus.
Explico o DCF neste vídeo:
Apresentei-te aqui 3 formas de procurares o valor justo de uma empresa.
Como viste, não há o valor intrínseco exato, mas há formas de chegarmos aos valores aproximados da empresa em questão.
Espero que este conteúdo tenha contribuído para os teus investimentos.
Diz-me aqui nos comentários qual foi a tua maior aprendizagem, que eu gostaria muito de saber.
Obrigado e saudações lucrativas,
Frederico