Muitas pessoas têm dito que se Joe Biden ganhar a corrida à Casa Branca, então o impacto das eleições nas bolsas serão imensamente negativos.
Se for o Donald Trump a ganhar, então as ações disparam.
Isto porque os investidores temem que Joe Biden aumente os impostos sobre os lucros das empresas, sobre os ricos e sobre os rendimentos das pessoas no geral.
Por outro lado, perspetiva-se que Trump não aumente taxas sobre nada e mantenha a atual política os impostos.
Mas será mesmo assim?
Será que existe um real impacto das eleições nas Bolsas?
Vamos ver os resultados de vários estudos conduzidos à volta do globo.
Alguns estudos interessantes sobre o impacto das eleições nas Bolsas:
Ľuboš Pástor e Pietro Veronesi mostraram que nos EUA há maiores ganhos com regimes democráticos do que com regimes republicanos.
Já Oehler, Walker e Wandt afirmam que a vitória de um candidato democrático influencia negativamente os resultados com as ações.
O mais engraçado é que os autores também descobriram que os investidores já incorporam os impactos das eleições nas bolsas uns meses antes.
As pessoas incorporam as expetativas nos preços um tempo antes, pelo que é inútil pensar que só depois das eleições é que os efeitos se vão fazer sentir.
David Leblang e Bumba Mukherjee verificaram que, tanto nos EUA como no Reino Unido, há maior volatilidade no preço das ações quando os investidores antecipam uma vitória do governo mais à direita.
Já o volume de negociação tende a ser menor quando está no poder uma administração de esquerda, onde são esperados períodos de maior inflação.
Pedro Santa-Clara e Rossen Valkanov mostraram que os mercados apresentam melhores resultados debaixo de regimes democráticos do que debaixo de regimes republicanos.
Também viram que as empresas de pequena capitalização bolsista (small caps) tiveram um desempenho superior às empresas de grande capitalização bolsista debaixo de regimes democráticos.
Curioso!
Já James Booth e Lena Booth mostraram que não há diferenças significativas entre os retornos de large-caps e small-caps nos EUA, quer esteja no poder um regime democrático ou um republicano.
Mas também mostraram que os mercados acionistas tendem a ter melhor desempenho durante a segunda parte dos mandatos (quer democráticos, quer republicanos).
Steven T. Jones e Kevin Banning não encontraram qualquer evidência entre os regimes presidenciais e os retornos no Mercado de Ações.
Estudaram os retornos mensais dos mercados americanos ao longo de 104 anos e não encontraram qualquer relação significativa.
Mesmo no que toca ao chamado efeito “segunda-metade” (que diz que os mercados têm desempenhos superiores durante a 2ª metade dos mandatos), não encontraram qualquer evidência de que isto seja verdade, contrariando uma ideia pré-estabelecida entre os investidores.
Sanjay Ramchander, Marc Simpson e James Webb mostraram algo interessante: os REITs apresentam resultados superiores quando os Republicanos estão no poder da Casa Branca.
Art Durnev foi mais longe e analisou os efeitos das eleições nos preços das ações a nível global.
Verificou que o investimento é 40% menos sensível aos preços das ações durante os anos em que há eleições do que quando não há eleições.
Este efeito parece dever-se ao facto de que durante os anos em que há eleições as notícias tendem a centrar-se à volta dos temas políticos, “adormecendo” temporariamente os temas económicos e empresariais.
Um estudo interessante realizado com dados de 27 países pertencentes à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ou Económico (OCDE) mostrou que a volatilidade nos mercados tende a aumentar muito após o dia das eleições.
Mas lembra-te que volatilidade não quer dizer risco.
É só um efeito da incerteza que se vive…e os investidores gostam de ter certezas para investir.
Na Alemanha, Joerg Doepkea e Christian Pierdzioch encontraram evidências de que os ganhos nos mercados são superiores quando o regime no poder é liberal e inferiores quando está um regime conservador no poder.
Lee A. Smales mostrou que tanto na Inglaterra como na Alemanha a incerteza política pode levar a grandes oscilações nos preços das ações.
Isto foi particularmente verdade no período das votações para o Brexit, onde a volatilidade nos mercados aumentou muito (porém, no longo prazo a volatilidade desapareceu).
No Egipto, Walid Ahmed viu que os eventos políticos trazem grande volatilidade aos mercados e aos ganhos reais dos participantes em Bolsa.
Reparou ainda que os eventos políticos dos países desenvolvidos tendem a ter efeitos mais acentuados nas bolsas locais do que os eventos políticos dos próprios países.
Curioso!
Também Nada Hashim e Dalia El Mosallamy viram que as eleições presidenciais não tiveram qualquer impacto nos mercados, quer no Egipto (índice EGX100), quer nos EUA (índice S&P500).
Viram também que a volatilidade diminuía após as campanhas eleitorais.
Na Índia, Balaji, Kusuma e Kumar mostraram que os resultados das eleições têm um efeito pronunciado sobre as ações no curto prazo, que se dissipa no médio prazo, e tende a desaparecer no longo prazo.
Afirmam ainda que as flutuações nos mercados se devem mais às notícias do que aos fundamentais das empresas (concordo a 100%!!)
Algo que parece acontecer com frequência durante os anos de campanhas presidenciais é o aumento de atividade com os ETFs e Fundos de Investimento.
Alguns estudos têm mostrado que os investidores em ETFs tendem a estar mais ativos nos dias pré- e pós-eleições se for um republicano a ser eleito como presidente.
Já investidores em Fundos de Investimento tendem a estar mais ativos durante as eleições de um regime democrático.
Resultados interessantes que podes encontrar aqui.
Como podes ver, os resultados são muito diferentes, mesmo quando analisados os mercados do mesmo país.
Não há padrões claros quanto ao impacto das eleições nas bolsas.
Os efeitos das eleições nas Bolsas não são sempre iguais.
Nem os autores dos estudos se entendem!
As evidências variam consoante o período analisado, as ações analisadas e, acima de tudo, o método utilizado para analisar os dados.
Agora, uma coisa é certa: no longo prazo os efeitos das eleições dissipam-se completamente (pelo menos nos EUA).
Vê só as figuras abaixo.
Fontes: Standard & Poor’s & Dimensional Fund Advisors
Percebes porque digo que não há um real impacto das eleições nas bolsas para quem investe no longo prazo?
Só para quem está focado no curto prazo é que deve ter receio dos resultados eleitorais.
Esta imagem de um estudo feito pela Schroders também mostra os resultados do índice global de ações MSCI World perante vários eventos políticos que ocorreram entre 2016 e 2017.
Podes ver que, independentemente dos eventos políticos, os mercados continuaram a sua ascensão.
Brexit, eleições húngaras, eleições americanas, referendos italianos, etc. podem resultar em maior volatilidade no curto prazo, mas no longo prazo os mercados não querem saber dos eventos políticos para nada.
Porque as empresas produzem bens e serviços que beneficiam a sociedade independentemente dos eventos políticos.
Uma outra imagem da Fidelity Investments mostra que independentemente do partido no poder, em 4 anos os ganhos com o mercado de ações são muito semelhantes, ainda que no curto prazo as diferenças possam ser mais acentuadas.
Podes ver o estudo completo aqui.
A Visual Capitalist afirma que os resultados para o S&p500 foram positivos em anos eleitorais 82% das vezes.
Mais, mostraram também que na maioria das vezes, os resultados são positivos no 1º, 2º, 3º e 4º ano de presidenciais, independentemente do partido no poder.
Como podes ver, não há um padrão claro no impacto das eleições nos mercados acionistas.
Em vez de estarmos a tentar antecipar os impactos das eleições nas bolsas e perceber se deveríamos comprar ou vender ações consoante seja o Joe Biden ou o Donald Trump a ganhar as eleições, deveríamos focar-nos em analisar boas empresas onde pode haver oportunidade de investimento.
Warren Buffett, o maior investidor de todos os tempos, investiu continuamente ao longo das últimas 7 décadas.
E sempre afirmou que as eleições não tiveram qualquer impacto nos seus investimentos, pois as excelentes empresas que comprou continuaram…a ser excelentes!
Passou por 16 presidentes diferentes, da ala mais à esquerda à ala mais à direita.
Se o maior investidor de todos os tempos afirma que o impacto das eleições nas Bolsas é ZERO, porquê pensar que em 2020 vai ser diferente para nós?
Não admira que super-investidores como Warren Buffett tenham desempenhos superiores à média dos investidores.
Enquanto que a média dos investidores está à procura de justificar as suas decisões de compra ou venda de ações com os resultados eleitorais, Warren Buffett e outros super-investidores concentram-se nas operações das empresas onde investir.
Foco no longo prazo!
Foco nas excelentes empresas!
Preocupemo-nos em estudar as boas empresas onde investir…e deixemos a política para os políticos.
As excelentes empresas continuarão a oferecer excelentes oportunidades de investimento, quer seja Biden ou Trump a ganhar as eleições em 2020.
Saudações lucrativas,
Frederico