Neste artigo vamos ver o que é a Capitalização Bolsista. Vou-te mostrar como se calcula a capitalização bolsista e os vários níveis de capitalização que as empresas podem ter.

 

A Capitalização Bolsista mede o valor de mercado de uma empresa num dado momento. Esta métrica é crucial para os investidores perceberem se uma empresa ainda tem muitas perspetivas de crescimento pela frente ou se, pelo contrário, já maturou num dado mercado e oferece menos crescimento, mas mais estabilidade.

Para se obter este valor multiplica-se o número de ações da empresa disponíveis no mercado num dado momento pelo preço de cada ação.

 Qualquer empresa, quando começa, é pequena. Vai crescendo ao longo do tempo e pode vir a valer muitos milhões (ou biliões, ou até triliões, como veremos mais à frente). Quando as empresas estão cotadas numa Bolsa, podem assumir diferentes categorias, consoante o seu valor de mercado vá aumentando. Assim, as empresas podem ser:

  • Nano-Caps
  • Micro-Caps
  • Small-Caps
  • Medium-Caps
  • Large-Caps
  • Mega-Caps.

 

Vamos ver em detalhe cada uma delas.

 

1. Nano-caps

Têm uma capitalização bolsista inferior a $50 milhões. São consideradas extremamente arriscadas, pois são muito ilíquidas (há poucas ações a negociar em Bolsa), apresentam pouca informação ao público e, muitas vezes, os documentos internos não são auditados, tornando a qualidade da empresa dúbia. As suas ações são extremamente voláteis, podendo subir mais de 100% num só dia! São o brinquedo dos day-traders, que adoram negociar estas ações ao dia, pois as oscilações costumam ser enormes.

Um exemplo de nano-cap é a Raize, uma empresa portuguesa de empréstimos coletivos.

 

2. Micro-cap

Com uma capitalização bolsista entre $50 a $300 milhões, ainda apresentam elevada volatilidade, pouca informação disponível, e uma menor liquidez. Atenção para evitar empresas fraudulentas – é que com menor informação disponível, corres o risco de perder a totalidade do teu capital se investires numa empresa fraudulenta (e se essa fraude vier a ser descoberta, claro). Muitas micro-caps negoceiam em Mercados Descentralizados (Over-the-counter – OTC – Markets), onde as operações são realizadas entre dois investidores sem recurso a um intermediário regulado (e regulatório). No entanto, apesar do risco ser grande, a promessa de recompensa também costuma ser bastante elevada no mundo das micro-caps. 

Um exemplo de micro-cap é a Vista Alegre, uma empresa portuguesa de produção de porcelanas.

 

3. Small-caps

Com uma capitalização bolsista entre $300 milhões e $2 bilhões, já começamos a entrar no campo das ações minimamente aceitáveis para os investidores que queiram multiplicar o seu investimento por 10x ou 100x. Repara que uma empresa que hoje vale 100 biliões começou pequena. E se investires numa empresa que vale hoje $1 bilião, é bem possível que ela venha a valer 100x mais daqui a uns anos. Isto claro, se os fundamentais dela forem bons, o crescimento for elevado, e a tua capacidade de manter o investimento para o longo prazo for excelente!

Uma das maiores vantagens de investir em empresas de pequena capitalização bolsista é conseguir bater os grandes investidores no seu próprio jogo; é conseguir melhores performances que muitos gestores de fundos. O que quero dizer com isto? É que os Fundos de Investimento que operam com biliões de euros ou dólares não têm capacidade para operar no mercado das pequenas empresas. Se mexessem uma palha (de $1 bilião), comprariam a totalidade da empresa. Por isso eles têm de olhar para as empresas de grande capitalização bolsista, muitas vezes na ordem dos 100 biliões ou mais, para encontrar oportunidades. Mas empresas gigantes apresentam poucas perspetivas de crescimento; são empresas maduras em nichos de mercado maduros, que oferecem reduzida possibilidade de crescimento elevado. Assim, os investidores privados que olham para este nicho podem encontrar muitas oportunidades de investimentos que podem vir a valorizar 100x. Espetacular, não é?

Para além dos grandes players do mercado não mexerem uma unha quando olham para as empresas de reduzida capitalização, também têm uma regulação apertada sobre eles, que não lhes permite adquirir posições relevantes em empresas cotadas. Por exemplo, não podem deter mais de 10% duma empresa, o que implicaria outras obrigações para com o mercado. Se uma empresa valer $1 bilião, basta comprar $100 milhões em ações dessa empresa para passar a deter 10% da empresa. Os grandes Fundos de Investimento não querem fazê-lo.

Mas a história não fica por aqui.

Historicamente, as empresas de capitalização bolsista reduzida apresentam rentabilidades superiores às empresas de elevada capitalização bolsista a longo prazo. Lembra-te: uma empresa pequena tem mais probabilidades de crescer do que uma empresa madura num nicho maduro; uma já cresceu tudo o que tinha a crescer, a outra ainda tem muito caminho a percorrer.

De qualquer das formas, as ações de pequena capitalização bolsista ainda são algo voláteis (embora menos que as micro- e nano-caps). E os riscos associados ainda são consideráveis.

Um exemplo de small-cap é a nossa Corticeira Amorim, uma empresa que produz e trabalha a cortiça para vários usos. É líder mundial no seu setor!

 

4. Mid-caps

Têm uma capitalização bolsista entre os 2 e os 10 biliões de dólares. Aqui está o melhor dos dois mundos. São empresas algo robustas, mas que ainda apresentam uma elevada capacidade de crescer. Oferecem estabilidade e crescimento. Quem poderia querer mais? Repara que uma empresa de 10 biliões de dólares ainda pode crescer umas 10x até aos 100 biliões. Ou 100x até 1 trilião (nota: a Amazon, Apple e Microsoft valiam mais de 1 trilião em junho de 2020).

Durante tempos de turbulência nos mercados (isto é, durante Bear Markets), as mid-caps costumam comportar-se melhor. Pois flutuam menos de preço e recuperam muito rápido no início do próximo Bull Market (normalmente associado à próxima expansão económica).

Este é o campo onde mais gosto de atuar. São empresas que oferecem estabilidade e crescimento, e eu gosto disso. Gosto da ideia das empresas continuarem a crescer, mas também gosto de alguma estabilidade no meu portefólio.

Um exemplo de Mid-Cap é nossa Jerónimo Martins, uma retalhista bem conhecida pelas suas lojas Pingo Doce.

5. Large-caps

Apresentam uma capitalização acima de $10 biliões e abaixo de $100 biliões. As large-caps próximas dos 10 biliões de dólares ainda oferecem algum potencial de crescimento. Mas as de $100 biliões começam a oferecer poucas perspetivas de crescimento e reduzida oportunidade de valorização. Pelo contrário, já são empresas maduras no seu nicho de mercado. São empresas robustas, mais flexíveis, e que recuperam melhor das quedas nos mercados. Pois adaptam rapidamente os seus produtos ou serviços para fazer face a novas realidades e têm dinheiro para o fazer.

Normalmente, quando as empresas atingem estes valores, já são bastante conhecidas. É por isso que a maioria das pessoas fala de empresas como Apple, Microsoft, Amazon, Netflix, Facebook, etc. Todas elas empresas que eram praticamente desconhecidas nos primeiros anos de operações e que passaram a ser manchete de jornais diariamente quando atingem elevada capitalização bolsita.

As large-caps nos EUA representam cerca de 90% da economia. Apesar de haver mais de 3000 empresas cotadas só nos EUA, as large-caps são responsáveis por gerar a maior fatia do produto interno bruto (PIB).

São consideradas empresas transparentes, estáveis, empregadoras de uma fatia considerável da sociedade, líderes no seu nicho de mercado, e pagadoras de dividendos. Aliás, são tão estáveis e é tão difícil para elas encontrarem mais oportunidades de crescimento que optam muitas vezes por distribuir dividendos (atenção, nem todas o fazem). Esta é que é a maravilha das large-caps, e por isso é que é presença obrigatória num portefólio diversificado de ações: oferecem proteção contra ciclos económicos menos favoráveis e distribuem dividendos regulares, que podemos usar para investir noutras empresas e assim aumentar o poder do juro composto, capitalizar mais o nosso capital.

Um exemplo de large-cap é a EDP Renováveis.

 

6. Mega-caps

Estas empresas têm uma capitalização bolsista superior a 100 biliões de dólares. Estas são parecidas às large-caps, só que são ainda mais maduras nos seus nichos e oferecem ainda menores perspetivas de crescimento a muito longo prazo (normalmente, claro; pois há sempre exceções). São empresas altamente dominantes nas suas indústrias, oferecendo um conjunto muito vasto de produtos e serviços que beneficiam a sociedade.

Por vezes, podem atingir valores superiores a 1 trilião de dólares, como aconteceu com a Microsoft, a Apple e a Amazon.

Um exemplo de mega-cap é a Citigroup, um dos maiores bancos dos EUA e que eu já analisei num outro artigo.

 

 

 

Estas são as características que normalmente definem os diversos tipos de capitalização (e digo normalmente porque pode haver pequenas variações, consoante a fonte de consulta).

Lembra-te que estes valores são aproximados. Não há um limite fixo para o que define uma categoria ou outra. Aliás, como as ações variam de preço todos os dias, pode acontecer que num dia uma empresa seja small-cap, no dia seguinte mid-cap, na semana seguinte volte a small-cap, e dali a 3 anos mid-cap. Tudo é possível na Bolsa!

Por uma questão de diversificação, talvez seja interessante considerares empresas das várias capitalizações bolsistas. Ou seja, não ter tudo investido em mega-caps, que te oferecem estabilidade, mas nenhuma perspetiva de crescimento elevado; nem ter tudo investido em nano- e micro-caps, que te oferecem elevado potencial de crescimento, mas elevado risco de perda de capital (podes mesmo perder todo o teu capital ao investir somente nestas empresas). Uma boa estratégia de diversificação oferece crescimento e proteção ao mesmo tempo.

 

Pensas investir em empresas de alguma destas categorias? Qual? Diz-me aí nos comentários se estás a pensar adicionar ao teu portefólio small-, mid- ou large-caps, ou de qualquer outra categoria.

 

Saudações lucrativas,

Frederico Santarém