A Airbnb lança a sua Oferta Pública Inicial (IPO) no dia 10 de dezembro de 2020.
Esta é a IPO mais aguardada do ano!
Tem gerado grande antecipação e controvérsia, principalmente porque foi adiada depois da pandemia da COVID-19 se alastrar no início de 2020 e por a empresa se relançar nesta iniciativa no final do ano, quando a 2ª vaga causou ainda mais impactos do que a 1ª.
Será esta uma boa altura para a empresa fazer a sua IPO?
E será um bom investimento?
É isso que vamos ver neste artigo.
Vamos ver:
- A história da empresa
- O modelo de negócio
- Crescimento futuro da empresa
- O impacto e oportunidade da COVID
- Os números que interessam
- Riscos para o negócio
- Perspetivas de investimento
1. A História da Airbnb
Os fundadores, Brian Chesky e Joe Gebia tiveram a ideia original em 2007, quando estavam a ter dificuldades em pagar o seu apartamento em San Francisco.
Estava marcada uma conferência de Design na cidade onde eles moravam, mas todos os quartos de hotel da cidade estavam esgotados. Criaram um website chamado AirBedandBreakfast.com para poderem alugar colchões insufláveis e servir pequenos-almoços aos participantes da Conferência no seu próprio apartamento.
Com isso poderiam receber os participantes da Conferência que não tinham onde ficar…e pagar o seu apartamento. Iriam unir o melhor dos dois mundos. Mas…
Toda a gente pensava que a ideia era idiota e que não ia dar certo!
Os críticos estavam enganados e este modelo de receção tem vindo a ser cada vez mais adorado pelos hóspedes que viram não só a oportunidade de ter um espaço onde dormir, como passaram a usufruir do contacto mais próximo com os locais, aprendendo sobre a cultural local, modos de vida, etc.
A ideia foi excelente: Os anfitriões ganhavam dinheiro alugando parte das suas casas a hóspedes que precisavam de um local onde pernoitar e queriam viver uma experiência mais rica e genuína do que aquela que obtinham com os hotéis.
Nathan Blecharczyk, um engenheiro de software, juntou-se à equipa em 2008 para entender de que forma os hóspedes se podiam sentir menos estranhos em casa de pessoas que não conheciam. A solução foi cruzar perfis de hóspedes e anfitriões, integrar um sistema de mensagens numa plataforma online, instalar um serviço de opiniões e construir um sistema seguro de pagamentos que pudesse operar à escala global.
Nascia aqui uma ideia de economia partilhada, onde os lucros são partilhados por várias pessoas a nível global (os proprietários dos apartamentos/casas), tal como aconteceu por exemplo com a Uber, Lyft e outras empresas que tais.
Em 2020, a Airbnb conta com 4 milhões de anfitriões inscritos na plataforma, que tem vindo a aumentar o número de experiências. Agora contam não só com quartos, apartamentos, vivendas, mansões, etc., como também oferecem um conjunto de experiências de viagem/turismo à volta do globo.
Os números são impressionantes:
- 220 países e regiões autónomas
- Mais de 825 milhões de hóspedes passaram pela plataforma
- Os anfitriões ganharam mais de 110 biliões de dólares no seu conjunto
A ideia da Airbnb é única e disruptiva para a indústria hoteleira: querem que os viajantes não se sintam como meros turistas deslocados da cultura local, mas sim que tenham experiências autênticas e que vivam como os locais!
E têm ainda uma marca que é usada como nome e como verbo por todo o mundo: AIRBNB!
2. O modelo de negócio da Airbnb
O modelo de negócio da Airbnb é simples: cria uma plataforma onde as pessoas podem alugar as suas casas a convidados que procuram essas ofertas na plataforma. E a empresa recebe dos dois lados: 3% do lado de quem aluga, 6%-12% do lado do visitante dependendo do tempo que está hospedado no modelo mais simples (anfitrião individual).
Este é o modelo original…
Que foi melhorado para o chamado Professional Host (anfitrião profissional). Aqui os anfitriões que façam disto negócio têm várias propriedades a alugar e a Airbnb recolhe 14% em taxas do anfitrião e não recolhe nenhuma taxa do hóspede.
As imagens abaixo exemplificam muito bem o modelo de negócios da Airbnb.
Nota: a propriedade intelectual destas duas imagens pertence a Frederico Santarém e como tal não deverão ser usadas sem a permissão prévia do autor.
3. Crescimento futuro da Airbnb
A Airbnb estima que o Tamanho do seu Mercado seja de cerca de 1.5 triliões de dólares (quando medido pelo SAM – Serviceable Addresseable Market) ou de $3.4 triliões (quando medido pelo TAM – Total Adresseable Market). Deste último valor, a empresa diz que o mercado das estadias curtas (short-term stays) é de $1.8 triliões, o de longa-duração (long-term stays) de $210 biliões, e o das experiências de $1.4 triliões. Não sei onde foram buscar estes números enormes, quando o TAM da indústria hoteleira está atualmente estimado em perto de $600 biliões (segundo a STATISTA), mas parecem demonstrar uma oportunidade tremenda de crescimento. De qualquer das formas, colocaria o valor de TAM mais baixo do que $3.4 triliões…talvez mais perto de $1 trilião (ainda assim superior à totalidade dos hotéis).
Para além disso, estima que o mercado de arrendamento temporário vai continuar a crescer à medida que mais pessoas vêm a oportunidade de alugar a sua casa a hóspedes de todo o mundo. A penetração em mercados como a China, India, América Latina e Sudeste Asiático ainda é diminuta, pelo que têm um enorme potencial para servir mais de 3 biliões de pessoas nestes mercados (claro que há concorrentes de peso, como falaremos mais à frente, mas este é um objetivo potencial a atingir).
4. A disrupção da COVID-19…ou terá sido a Oportunidade?
Em 2020, a COVID-19 causou tremendos impactos no turismo. Milhares de empresas ligadas ao alojamento, transporte e experiências turísticas viram as suas receitas caírem para níveis nunca antes vistos…e muitas tiveram de fechar!
As Bolsas mundiais reagiram negativamente, com algumas empresas a verem as suas ações a afundarem 80% em Bolsa.
A Airbnb não foi diferente e o negócio sofreu bastante, como dá para ver na imagem abaixo:
Fonte: prospeto de IPO da Airbnbn
Os meses de março, abril e maio foram péssimos… mas a empresa recuperou substancialmente depois disso!
O modelo de negócio da Airbnb é único e resiliente aos impactos do coronavírus ou de outras pandemias no turismo. Como a empresa oferece não só um espaço onde ficar, mas também comodidades para “trabalhar onde quiser e a partir de qualquer casa” (palavras da própria empresa), beneficiou com o Confinamento.
Contudo, novas restrições à circulação na Europa e nos EUA no final de 2020 condicionaram novamente as operações da Airbnb e prevêem-se resultados muito negativos no 4º trimestre de 2020, tanto a nível das Reservas Brutas como das Receitas geradas.
A empresa tem feito alguns cortes de custos para suprir as necessidades de curto prazo e manter a saúde financeira da empresa.
5. Os números da Airbnb
A empresa tem crescido a olhos vistos!
Há aproximadamente 4 milhões de anfitriões registados na plataforma que estão espalhados por todo o mundo. Estes números têm vindo a crescer anualmente.
Em 2020 a empresa declara ter 7.4 milhões de unidades listadas em 100.000 cidades em mais de 220 países e regiões e 54 milhões de viajantes registados no site que reservaram 327 milhões de noites no total.
A maioria dos clientes aparece na plataforma de forma orgânica (91% de todo o tráfego) o que representa pouco investimento em marketing (e muito dinheiro poupado, por consequência). E em 2019, 84% das receitas resultaram de pessoas que já compraram pelo menos uma vez a partir da plataforma. Clientes recorrentes, portanto!
Em 2019 criaram a Airbnb Experiences (ver imagem do modelo de negócio acima), onde os hóspedes podem reservar experiências (que podem ser uma simples viagem a um parque urbano local) juntamente com as reservas de quartos/casas. Neste campo a empresa recolhe 20% em taxas.
Em 2019 o Valor Bruto das Reservas (Gross Booking Value) foi de $38 biliões, o que representa um crescimento de 29% face aos $29.4 biliões gerados em 2018.
As receitas em 2019 foram de $4.8 biliões, um crescimento de 32% face aos $3.7 biliões em 2018.
Claro que em 2020 estes números não foram tão bons…
Durante os primeiros 9 meses do ano (até 30 de setembro 2020) o negócio viu o Valor Bruto das Reservas cair 39% YoY para $18 biliões e a receita caiu 32% para $2.5 biliões.
De janeiro de 2011 até ao final de 2019 a empresa gerou aproximadamente 1 bilião de dólares (em net cash) e investiu $507 milhões em propriedades e equipamentos (CAPEX – CAPital EXpenditure). Isto totaliza $520.1 milhões de dólares em Dinheiro Livre em Caixa (Free Cash Flow) durante esse período (2011-2019).
O lucro líquido da empresa continua negativo, pois a empresa tem investimentos elevados na plataforma e investe ativamente para aumentar a sua posição (que já é dominante no seu nicho de mercado).
Apresentou Margens elevadíssimas, demonstrando que o negócio é leve do ponto de vista de investimento (capital light) e que pode tornar-se extremamente lucrativo: Gross Margin: 76% em 2018, 75.1% em 2019, 73.55% em 2020 (até 30 de setembro).
As despesas com as vendas e marketing (em percentagem) têm vindo a diminuir, com a eficiência da empresa a melhorar ainda mais.
Reuni alguns números dos últimos 4 anos, para dar uma perspetiva geral do crescimento da empresa (nota que há número em Milhões [M] e outros em Biliões [B]):
Resumi alguma informação em gráfico, para uma compreensão mais fácil.
Podemos ver que as reservas na plataforma vinham com uma tendência crescente, mas que foi altamente impactada pelo Grande Confinamento.
E podemos ver que as receitas vinham a crescer, mas os lucros operacionais ainda não eram animadores. Contudo, o Dinheiro Livre em Caixa (FCF) foi positivo nos últimos anos, exceto em 2020 (pelas razões óbvias). É muito raro vermos uma empresa de crescimento, relativamente recente no mercado, gerar FCF positivo. Um ponto excelente para a Airbnb.
6. Riscos para a Airbnb
Como qualquer empresa, a Airbnb está sujeita a um conjunto de riscos que pode prejudicar as suas operações.
Não pretendo aqui listar todos os riscos a que a empresa está sujeita. A lista completa está no prospeto da sua IPO. Mas vou listar aqueles riscos que considero mais relevantes.
6.1. Pandemias
Em março de 2020 a COVID-19 abateu-se sobre o setor do turismo como nunca tínhamos visto antes. As restrições impostas por governos nacionais/regionais, com confinamentos generalizados a limitar as viagens e estadias de pessoas por todo o mundo. A segunda vaga do coronavírus no final de 2020 veio trazer novas restrições por todo o mundo. E futuras epidemias/pandemias podem impactar o negócio da Airbnb por todo o mundo.
6.2. Recessões económicas e eventos únicos
A indústria do Turismo e Viagens é cíclica e acompanha os movimentos da economia. Nos anos em que a economia cresce, o turismo está em alta. Mas quando estamos em recessão…a área do turismo e viagens é das mais afetadas. A Grande Recessão de 2008-2009 mostrou isso e o Grande Confinamento de 2020 não foi diferente! Ciclos de recessão prejudicam a indústria durante muitos meses/alguns anos, pelo que a Airbnb pode ver as reservas caírem temporariamente.
Para além dos ciclos económicos, temos eventos únicos que prejudicam muito a indústria do turismo, como furacões, terramotos, tsunamis, cheias, secas, e epidemias e pandemias como ocorreu no passado com o Ébola, Zika, SARS e agora a COVID-19.
6.3. Concorrência
A concorrência na indústria das Viagens e do Turismo é muito elevada!
Os principais concorrentes são outras OTAs (Online Travel Agencies) como a Booking Holdings, Expedia Group, Trip.com Group, Meituan Dianping, Fliggy (subsidiária da Alibaba) e MakeMyTrip. Sinceramente, destas todas as mais competitivas nos mercados ocidentais são a Booking Holdings e a Expedia Group, pois são intermediários de ofertas como a Airbnb a operar no setor da hotelaria e viagens e não detêm as propriedades. Estas empresas conectam as pessoas que querem as experiências e aqueles que têm as propriedades. Ainda assim, estas concorrentes listam muitos hotéis, resorts, hostels e residenciais, enquanto que a Airbnb opera num nicho só seu: a partilha de casas de pessoas comuns. Outra particularidade a ter em atenção é que a Booking e a Expedia “compram” aos hotéis quartos a desconto (pois fazem-no em grandes blocos) e vendem-nos às pessoas a preços mais elevados. A principal diferença destes concorrentes para a Airbnb é que a Airbnb não oferece espaço para publicidades, enquanto que as outras sim.
Outros concorrentes incluem os motores de pesquisa como a Google e Baidu; e de meta-pesquisas como a TripAdvisor, Trivago, Craiglist e outras. Mas os primeiros apresentam resultados de pesquisa que conduzem à plataforma da Airbnb (o que é bom para a empresa) e os segundos são mais direcionados a experiências variadas (de alojamento a atividades), pelo que considero que o impacto não é tão severo.
A Airbnb lista as maiores cadeiras de hotéis do mundo como a Marriott, Hilton, Accor, Wyndham, InterContinental, OYO e Huazhu como concorrentes. Lembrar que 5 das maiores cadeias de hotéis detêm a quase totalidade do negócio de hospedagem. Mas a Airbnb opera num nicho muito próprio, altamente disruptivo para a indústria hoteleira. Competem por hóspedes, mas em níveis diferentes (hotéis vs. casas das pessoas).
Plataformas online que oferecem experiências como a GetYourGuide, Klook, Traveloka e Viator também competem com a Airbnb, mas num nível menor.
De todos os nomes acima referidos, o principal impacto negativo para a Airbnb vem do reconhecimento das marcas concorrentes. Algumas destas marcas têm uma história longa e uma marca muito poderosa e reconhecida mundialmente. No entanto, a Airbnb tem vindo a ficar cada vez mais conhecida pelo mundo todo. De todos os países pelos quais já viajei, não houve um único onde não existisse ofertas Airbnb, incluindo países subdesenvolvidos como São Tomé e Príncipe e Mauritânia.
6.4. Corrupção em certos países
A Airbnb opera a nível global. Mas algumas das suas operações podem ir contra as leis dos EUA e/ou sanções aplicadas a alguns países por parte do governo norte-americano. Os pagamentos na plataforma podem ser considerados uma violação destas regras e a empresa pode sofrer repercussões severas. A empresa terá de rever constantemente se os pagamentos feitos na plataforma para assegurar que não estão a financiar atividades ilícitas.
6.5. Diluição de ações
Poucas pessoas costumam considerar este risco, mas ele existe! A empresa pode vir a emitir mais ações no futuro, diluindo a posição dos acionistas que, entretanto, tenham comprado ações. É sempre um risco a considerar e um fator muito negativo para o acionista. Pois ninguém quer ter uma posição de 10% e vê-la diluída para 5%. Ou ver 1% a passar para 0.5%. Ou qualquer outra combinação.
E quando estamos a falar de uma empresa nova em Bolsa, este risco é acrescido. Pois a empresa pode ter necessidade de emitir mais ações para captar mais capital (e novos investidores) para financiar as suas atividades.
A emissão de novas ações é, na maioria das vezes, um fator negativo para o investimento!
7. Avaliação da empresa
Agora, a parte que mais nos interessa. Será esta uma boa oportunidade de investimento?
Será o preço a pagar justo? Ou será caro? Ou barato?
Nunca investi em IPOs. Não me interessam, porque os seus preços costumam estar inflacionados e acabam por ter desempenhos em Bolsa muito fracos no curto/médio prazo. As razões que me levam a não investir em IPOs estão explicadas neste artigo.
Poderá este IPO ser diferente?
Mas vamos ao que interessa.
Esta é claramente uma Empresa de Crescimento (Growth Stock) que ainda tem muito por onde expandir. A empresa cresceu 5x nos últimos 5 anos, o que é absolutamente impressionante! Mas o crescimento está a abrandar. O que é natural, pois empresas maiores tendem a crescer menos à medida que amadurecem.
As Reservas Brutas têm aumentado, as receitas têm crescido, a dívida é diminuta face a outras empresas de crescimento, e a empresa gera FCF positivo (exceto para 2020, um ano absolutamente excecional para todas as empresas). A empresa cobra até 12% do valor das reservas, um valor muito alto e que lhes gera muito, mas mesmo muito dinheiro!
O que mais me impressionou é que a empresa está a tornar-se rentável. Normalmente empresas recentes no mercado e de elevado crescimento abdicam dos lucros para crescerem e penetrarem em novos mercados. Outras empresas que caem neste âmbito da Economia Partilhada (Shared Economy) como a Uber ou a Lyft ainda não conseguiram atingir a rentabilidade da Airbnb. Lembrar que em 2018 a empresa apresentou lucros operacionais positivos, o que é excecional. Isto impressionou-me muito e é um ponto a favor da empresa. Está quase a atingir a plenitude no que toca a lucratividade/rentabilidade e acredito que mais uns anos e a empresa começa a reportar lucros substanciais. Há que superar esta Crise Pandémica e provar que é realmente um negócio resiliente.
A empresa opera num nicho praticamente só seu e com tremendo potencial de crescimento! Os únicos concorrentes que considero pesos pesados são a Booking Holdings e a Expedia (nos mercados ocidentais) e a Meituan Dianping (nos mercados orientais). Mas a Airbnb abdicou de oferecer estadias em hotéis (algo que as outras fazem) e focou-se em distribuir estadias em casa de anfitriões locais, num modelo de economia partilhada onde todos saem beneficiados. As concorrentes, ao ver o crescimento da Airbnb nos últimos anos e o tremendo potencial que tem, já começaram a partilhar ofertas semelhantes (arrendamento de curta duração em casa de pessoas), mas as receitas geradas a partir desse setor são ainda muito diminutas e estão a anos-luz das da Airbnb. Considero que a Airbnb está num nicho só seu, sem concorrência à altura e com fortes barreiras à entrada.
Quanto ao IPO, prevê-se que este aconteça no dia 10 de dezembro 2020.
Lembrar que a empresa recebeu nos últimos anos pelo menos $3.98 biliões de investidores privados, incluindo da Sequoia Capital, Founders Fund, Silver Lake, Sixth Street, DST Global, Greystar Real Estate, e da Accel.
A empresa procura levantar $2.44 biliões no dia da IPO (este número pode sofrer alterações) e pretende usar esse dinheiro pagar parte da dívida que gerou em 2020 e investir no seu crescimento.
Há 4 classes de ações:
Classe A: para os investidores do Grande Público e que dão direito a um voto por ação.
Classe B: para os co-fundadores e alguns investidores iniciais: 20 votos por ação.
Classe C: ainda não foram emitidas e serão possivelmente para investidores estratégicos ou para proprietários da plataforma na modalidade de negócio Professional Host (não confirmado).
Classe H: ações para a entidade Airbnb Host Endowment, sem direito a votos. A empresa financiou o Endowment com 9.2 milhões de ações Class H e o seu co-fundador Chesky prometeu até $100 milhões para esta entidade para beneficiar os Anfitriões da plataforma numa base anual.
Serão vendidas cerca de 50 milhões de ações Classe A. O free float (ações livres em circulação face ao total da empresa) poderá ser cerca de 8.7%. Os diretores, executivos e alguns dos acionistas atuais controlarão cerca de 49% das ações com 58.8% do poder de voto. Gosto de ver empresas cujos fundadores/acionistas primários detêm elevadas fatias do negócio, pois quer dizer que têm os seus interesses alinhados com os nossos!
Podemos avaliar a empresa de várias formas.
Por exemplo, o valor do Capital Próprio deverá estar entre os $25.3 biliões e os $35 biliões se o valor das ações estiver entre os $44 e os $50/ação no dia da IPO.
Assim, o múltiplo Enterprise Value/Revenues (EV-to-Revenue) será de cerca de 7x (receitas de 2019 e EV de $35B), um múltiplo razoável para uma empresa que é não tem grandes ativos no seu balanço (diz-se em inglês que é Asset-light). Por exemplo, a Booking Holdings está atualmente com um EV-to-Revenue de 9.91x.
O múltiplo EV-to-EBIT será de 69x (com os lucros operacionais de 2019 e considerando $35 biliões de Valor da Empresa). A Booking Holdings tem um EV-to-EBIT atualmente de 42.8x.
Se o preço de uma ação for de $44, o múltiplo P/FCF será de 22.56x face aos valores de 2019 (em 2020 o FCF foi negativo, como vimos acima, pelo que é impossível calcular este valor). E se o preço estiver nos $50, o múltiplo P/FCF será de 25.64x. Valores altos, mas temos de considerar que esta é uma empresa de crescimento para a qual ainda há poucos dados para comparar.
Quando estamos a olhar para um IPO não há muito por onde comparar (não há dados financeiros de longo prazo, tal como gosto de ter para fazer a avaliação). Resta-nos comparar com um ou outro concorrente mais direto. Assim, vou comparar algumas métricas da Booking Holdings e tentar inferir alguns preços justos/razoáveis para a Airbnb.
A Booking Holdings tem um Valor da Empresa (Enterprise Value) de cerca de $86 biliões, receitas de $15 biliões, um FCF de $4.5 biliões e um EV-to-Revenues de 5.7x e um EV-EBIT de 17x (valores de 2019). O P/FCF da Booking em 2019 era de 19x e atualmente está nos 61 (esta discrepância deve-se sobretudo ao facto da cotação das ações ter subido em 2020 quando o FCF da empresa na verdade foi altamente impactado pelo Grande Confinamento). A Airbnb deverá ter um Valor da Empresa perto de $35 biliões, quando gerou receitas de $4.8B em 2019, apresentou um FCF de $97.3 milhões e poderá apresentar um EV-to-Revenues de 7.2x e um EV-EBIT de 69x. Lembrar que o P/FCF da Airbnb poderá estar algures entre os 22.5 e os 25.6, o que compara favoravelmente com os valores da Booking Holdings para 2020, mas desfavoravelmente para 2019. Ou seja, quando olhamos para as vendas, o valor parece adequado. Quando olhamos para os lucros operacionais, já pode parecer um valor inflacionado. E quando olhamos para o P/FCF, o valor para 2019 é razoável.
Alguns destes números podem parecer elevados, mas é preciso lembrar que estamos perante uma Empresa de Crescimento (Growth Stock), que opera num nicho próprio (Economia partilhada de estadias de curta duração), com elevadas barreiras à entrada (seria preciso muito capital para construir de raiz uma marca com este valor) e que não tem grandes concorrentes (tirando os já comentados acima).
Posto isto, considero que se a empresa entrar com um valor de Capital Próprio entre os $33 e os $40 biliões, estará justamente precificada. Valores muito superiores a $40 biliões já podem significar sobreavaliação e pedir problemas no curto/médio prazo para os investidores pós-IPO. Mas se o valor do Capital Próprio estiver bem abaixo dos $30 biliões, então estaremos perante uma pechincha, um saldo tremendo numa empresa desta categoria. Teremos de ver como os investidores reagem no dia da IPO e que valores a empresa vai passar a cotar.
De qualquer forma, estes números estão sujeitos a grandes oscilações nos próximos dias e é preciso observá-los com cuidado redobrado. As implicações que assumo aqui estão sujeitas a grandes variações.
A Airbnb vai cotar na bolsa NASDAQ com o Ticker Symbol “ABNB”.
(Atualização)
A 7 de dezembro a Reuters noticiava que a Airbnb aumentou o valor a ser levantado em Bolsa para os $3.09 biliões, planeando vender 51.6 milhões de ações com preços entre os $56 e os $60 por ação. Estes valores alteram os cálculos apresentados acima, ainda assim considero que poderão estar razoavelmente precificados (mas estão sujeitos a revisão após o IPO).
(Atualização 2)
No dia de estreia da empresa em Bolsa, dia 10 de dezembro, a avaliação voltou a subir.
Um dos fundadores, ao falar para o canal norte-americano CNBC admitiu que as ações começariam a ser negociadas a $68 cada, avaliando a empresa em $47B, por isso já algo caras (ver acima Ponto 7. Avaliação).
Mas assim que as ações começaram a ser negociadas, subiram 140% para os $164, colocando a avaliação da empresa nuns estratosféricos $113 biliões! Muito acima do esperado!
O link para o prospeto completo da IPO da Airbnb pode ser encontrado aqui.
Espero que tenhas gostado desta análise profunda à IPO da Airbnb. Se leste até ao fim, os meus mais sinceros parabéns! Diz-me aqui nos comentários se leste até ao fim e qual a tua opinião face à IPO da Airbnb, que eu gostaria muito de saber.
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Obrigado por estares desse lado e saudações lucrativas,
Frederico
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Esta analise esta fantástica e muito completa mesmo. Parabéns e obrigado Frederico.
Olá Ricardo,
Obrigado pelo comentário. Gosto de ver que a análise foi útil.
Forte abraço e saudações lucrativas,
Frederico
Análise completa e ilucidativa para um newbie como eu.
Obrigado